Assim como o efeito de um alarme de incêndio ensurdecedor, a divulgação do sexto relatório IPCC sobre a crise climática colocou a humanidade em estado de alerta. Mas que neste caso, infelizmente, este alarme não é apenas uma simulação.
– Eu ouvi “situações irreversíveis”?
Sim, isso mesmo! No último dia 09 de agosto, 234 dos principais cientistas climáticos do mundo deram um alerta claro sobre o agravamento da emergência climática global, já com situações irreversíveis. Trata-se do Relatório Landmark, da ONU (Veja o documento completo em inglês aqui). As descobertas, aprovadas por 195 estados membros, descrevem como certas atividades humanas estão alterando o planeta.
Vale destacar que uma das maiores revelações do relatório traz as mudanças climáticas como resultados do comportamento humano, e que já estão influenciando em eventos climáticos extremos em todas as regiões do planeta. Os cientistas também estão observando a confirmação de previsões no impacto na atmosfera, nos oceanos, calotas de gelo e na terra.
Alguns pontos de destaque do relatório:
1. Nos próximos 20 anos, a temperatura global deve subir 1,5 grau Celsius (prazo mais cedo do que em avaliações anteriores);
– “Ah, mas só 1,5 grau?” Em uma proporção global, isso muda (e desequilibra) tudo!
O resultado será de chuvas mais intensas em certos lugares e secas mais bruscas em outras regiões, além da acidificação dos oceanos.
2. O aumento do nível do mar deve ser irreversível ao longo dos anos;
As mudanças nos oceanos, incluindo o seu aquecimento, ondas de calor marítimo mais frequentes, a acidificação das águas e a redução dos níveis de oxigênio afetam tanto esses ecossistemas quanto as pessoas que dependem dele, e vão progredir até pelo menos o fim deste século. Eventos extremos relacionados ao nível dos mares que antes aconteciam uma vez a cada cem anos podem acontecer uma vez ao ano até o fim deste século.
3. Tendência a fortes ondas de calor, seca agrícola e derretimento das geleiras;
O relatório também indica que o aquecimento adicional ampliará o degelo dos solos congelados, ou permafrost, e a perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento das geleiras e mantos de gelo e a perda do gelo marinho do Ártico no verão.
Os cientistas também alertam que à medida que avança o aquecimento global as mudanças no sistema climático se acentuam. Isso inclui aumentos na frequência e intensidade de extremos de calor, ondas de calor marinhas e precipitação intensa; secas agrícolas e ecológicas em algumas regiões; a proporção de ciclones tropicais intensos; bem como reduções no gelo do mar Ártico.
4. Ficou claro que o homem é responsável pelo aquecimento global;
Os especialistas do IPCC revelam que a ação humana afeta todos os principais componentes do sistema, sendo que alguns respondem a essas atividades há décadas e, outros, há séculos. Alguns exemplos são a queima de combustíveis fósseis e o corte de árvores, responsáveis pelo aquecimento recente.
Dos 1,1°C de aquecimento que vimos desde a era pré-industrial, o IPCC concluiu que menos de 0,1°C se deve a forças naturais, como vulcões ou variações do sol. Dá só uma olhada nesses outros números:
- As atividades humanas contribuíram com 84-90% delas desde pelo menos 2006;
- O aquecimento induzido pelo homem tem muito provavelmente sido o principal motor do recuo glacial desde a década de 1990;
- A redução do gelo do mar Ártico desde 1970;
- O declínio da cobertura de neve da primavera no Hemisfério Norte desde 1950;
- O aumento do nível do mar global desde pelo menos 1970.
Mudanças extremas documentadas recentemente, como ondas de calor, precipitações pesadas, secas e ciclones tropicais, estão mais recorrentes, e não há dúvidas quanto à atribuição humana desses fenômenos. Lembre-se das inundações causadas pelas chuvas recentemente, no 1º semestre de 2021, na Ásia e na Europa, assim como das queimadas que alastraram a Califórnia e na Austrália nos últimos anos. A tendência, ainda por cima, é piorar.
– “Tá, mas e quem é o IPCC nesta história?”
IPPC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) é o organismo da ONU promotor da ciência relacionada às mudanças climáticas. Ele foi criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para equipar líderes políticos com avaliações científicas periódicas sobre as mudanças climáticas, suas consequências e riscos, além do mapeamento de estratégias de adaptação e mitigação.
O documento sistematiza trabalhos científicos disponíveis sobre a crise climática e projeta o que deve acontecer com o planeta nas próximas décadas. A avaliação é baseada em dados aprimorados sobre o aquecimento histórico, bem como no progresso na compreensão científica da resposta do sistema climático às emissões causadas pelo homem. Caso queira mais detalhes sobre o trabalho de pesquisa do IPCC, fica aqui a dica de leitura.
– Impossível não pensar: “Mas ninguém está fazendo nada???”
Sim, há ações e políticas em andamento, mas não o suficiente. O secretário-geral da ONU , António Guterres, disse que o momento é de intensificar esforços e perseguir o caminho mais ambicioso.
Em entrevista à CNN, o diretor do Instituto de Biociências da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) Marcos Buckeridge afirmou que “não estamos fazendo o suficiente” sobre as alterações climáticas.
Uma brecha de esperança e os próximos passos:
Os especialistas do IPCC deixam claro que ainda há tempo para limitar as mudanças climáticas no que de mais devastador elas acarretam. Reduções radicais e constantes nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, por exemplo, poderiam melhorar rapidamente a qualidade do ar. Caso isso seja feito, de 20 a 30 anos as temperaturas globais poderiam se estabilizar.
Ainda reagindo ao relatório, o chefe da ONU disse que as soluções eram claras. “Economias inclusivas e verdes, prosperidade, ar mais limpo e melhor saúde são possíveis para todos, se respondermos a esta crise com solidariedade e coragem”, resumiu ele.
Guterres também reiterou o papel central da Conferência global em Glasgow, em novembro, a COP26. Na ocasião, todas as nações — especialmente as economias mais prósperas — serão instadas a se juntar à coalizão de emissão zero, e reforçar a promessa de desacelerar e reverter o aquecimento global por meio das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, da sigla em inglês), uma série de diretrizes que detalham os passos de acordo com a realidade de cada país.
Deixe um comentário sobre quais são suas expectativas para os próximos passos dos líderes globais. Além deles, como você acredita que as organizações privadas podem fazer parte destas necessárias mudanças de rumo?
Fontes de pesquisa: Full Report IPCC/ naçoesunidas.org / BBC / WWF